# "A Juventude dos Desejos"
Crítica
Literária? Não! Apenas um estudo útil aos poetas novos
Luciana
Carrero
Vejam
só a minha pretensão: estudar e pronunciar-me sobre o poema do
acadêmico Joaquim Moncks, titular de Cadeira na Academia
Riograndense de Letras. Mas não resisti à tentação e, a seguir,
está o resultado. Foi mais um exercício para um estudo meu do que
propriamente um parecer, pois nenhuma observação minha poderia
interferir no ambiente do poema, já que a liberdade ampla é uma
força incontestável do poeta, segundo
penso.
Em sendo um estudo meu, que venha como colaboração ao estudo de
outrens. Quanto à minha pretensão, perdoe-me o autor, que anda num
patamar acima da minha modesta interferência.
Certas
afirmações, dúvidas ou mesmo indagações, no meu pensar, destoam,
neste significativo poema. Coloquei em negrito para que estudem
se seriam necessárias no contexto; ou
ainda, se poderiam ser ditas de forma afirmativa, para não
emprestarem um que de pusilanimidade ao poema.
A
naturalidade do poema, onde o poeta se esconde em nome da
universalidade, como neste, ficaria melhor a favor do poema e não do
poeta e suas fraquezas existenciais (negritos); ou de algum
personagem fortuito, que relampeja (negritos), de vez em quando, na
área da criação essencial. O eventual aparecimento, mesmo que não
nitidamente explícito do eu ou das suas relações e/ou
observações híbridas ao contexto,
podem macular o poema.
Neste
autor,
há
no
seu laboral ofício, em
geral, a
grandeza de anular-se em favor da arte e talvez visando a melhor
apropriação pelo interlocutor. Se é para ser assim, então que
seja completamente.
Quanto
a outros aspectos, posso dizer que inferi um pouco daquela fluência
de Neruda. Note bem que falei fluência e não influência. Em termos
comparativos, no pensar rápido ante os meus sentidos instigados,
passaram juntos, ao decorrer da leitura, Maikovski, Pessoa, Leminski
e, mais fortemente João Cabral de Melo Neto, este último, mormente,
pelo fato de ser mais exigente na estética, como o
autor ora estudado.
Entretanto, nenhum destes, nem mesmo Neruda, encostariam neste poema,
talvez
até por serem de outro contexto histórico, ou ainda porque não são
plenamente identificáveis ao citá-los.
É
só uma constatação.
Enfim, um poema que tem a consciência de um novo homem, de um novo
tempo, e trabalhado com a profissionalidade da adequação ao
espírito que o próprio autor preconiza em seus ensinamentos. Para
melhor digerir o texto, e poder analisá-lo com maior propriedade, o
dividi em estrofes, que me parecem, até para o leitor, mais
absorvíveis. Concluo classificando como um excelentíssimo poema. Se
fosse participar de um Concurso,
por estes não direi nada, pois os critérios deles são obscuros.
Salvo melhor juízo. (Luciana Carrero, produtora cultural).
A
JUVENTUDE DOS DESEJOS
Joaquim
Moncks
A
primavera já se despediu há muito.
Surge
a surpresa das tardias entregas.
O
desejo espera o gozo sem asperezas.
Não
é somente ele que fala.
A
linguagem úmida assoma o corpo.
Outra
madrugada de pomos e maçãs.
É
tardio este sentir que obriga a jogar fora
a
camisa prenhe de suor e ânsias...
Escorre
o orvalho de sons, ouvidos e poros.
Sempre
há esperança de que o amor venha:
tardia
rosa de esperanças empalma espinhos
curte
a sua incontrolável diáspora.
Pode-se
conservar a emoção das esperas?
E
o sono boceja de todo enlevo,
artérias
e cálice, vinho noviço.
O
menino acha que não morreu
o
amor de amar na solidão propícia.
É
um autômato saído de dentro do poço
sua
armadura em pele e osso pinta o rosto.
A
intuição inspira o verso.
O
reverso costura o estar vivo ou morto.
Esperança
de ser ouvido e levado a sério.
Não
há como traduzir a doçura,
se
não pela flor que nasce, cigarra
no
meio da noite, pedindo vaza
registro
dos tormentos e o dia seguinte.
Sobrevém
o estado de graça: o direito ao amar
absolve
a tudo, sopro de melancolias e ausências.
Quase
sempre
o amor é um sino mudo,
e
o poema come o rabo do capeta,
bota
a boca no mundo, pede passagem.
Nenhuma
vez o amor foi tão opressor
talvez
venha pra minimizar o medo.
Nunca
sabe o condenado qual horizonte é este:
sopra-lhe
ao nariz e aos ouvidos o silêncio
faz-se
cair da cama pra
declarar a vigência
a
decretação da liberdade sempre pura do amar.
A
mensagem aporta, telepática, hermafrodita,
talvez
agora possa dormir livre dos notívagos suores
que
ainda empapam a fronte e o pudor entre coxas.
Corre,
ao adormecer, um rio de nádegas, suor e sumos.
Que
durmas bem,
falante desconhecida e desconexa.
O
impudico induz ao não-dizer (e
a sensação é boa)
e
guarda a caneta – a incorrigível delatora.
Aquele
que
ama, mesmo que não saiba,
tem
na garganta a voz do vento.
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