#A Baba do Poeta # conto # Luciana Carrero
A Baba do Poeta
Luciana
Carrero
Ele tinha inspirações
incríveis, mas lhe faltavam as palavras bonitas; o serviço delas, bem servido;
a cumplicidade com os vocábulos. A deles presença na hora certa. Era poeta só lá no
mundo interior; e não conseguia trazer a lume o fantástico, que via com os
olhos da alma angustiada. Então, ia para as tabernas beber vinhos e graspas da
mais baixa qualidade, para afogar a sina triste. E babava chorumelas.
Um jovem aventureiro
andava pelas estradas, com sua mochila e sua guitarra; conhecia bem as palavras
e executava o seu instrumento, com precisão, mas não tinha inspiração.
Um dia chegou, na
taberna, e viu o poeta encripitado, babando chorumelas neste balcão.
Quando o taberneiro foi
limpar as babas, o jovem falou: deixa que eu limpo tudo que ele babar no
balcão. Ficou limpando as chorumelas, por vários dias, mas não bebia nada.
Guardava os panos, dia após dia, na sua mochila encardida.
Até que um dia foi
embora, cheio de panos sujos das babas. Sentou-se ao pé de uma árvore frondosa
e colocou os panos babados ao redor. Vieram pássaros e passeavam por cima
daqueles panos, bicavam e cantavam as babas dos panos, que o jovem poeta
acompanhava, com sua guitarra e recitava as canções com sua voz, em palavras,
que antes não tinham inspiração. Daí saíram belas canções de amor.
Então as lindas ninfas e
gnomos também passaram a chegar; e mais borboletas e sonhos, misteriosos entes
astrais, e tudo o mais que um poeta possa precisar. As ninfas morenas e
risonhas dançavam ao seu redor; e veio o povo da aldeia, vieram crianças e
anjos, acariciar seus cachos dourados e mirar-se nos olhos azuis do poeta bem
letrado, que limpava babas de inspirações para compor suas canções.
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