Tenho aqui muitos amigos
homofóbicos, sei disso, mas eles se portam bem comigo, ficam calados, que já é
respeitar os semelhantes. Agradeço por serem discretos e não me atingirem
pessoalmente. Há também muitos evangélicos no meu Facebook. Identifico-os
claramente pelo jeito de falar, de se portarem, até pelo estilo das suas fotos.
Há aqui os confusos. Tenho uma amiga que passa o dia se revezando entre batuque
e catolicismo e tentando passar mensagens sobre isto em tempo integral. Mas, na
essência, todos esses dialogam sem definições doentias próprias dos
fundamentalistas. Principalmente agora que temos um papa com jeito gay e que
até, parece incrível, freou um pouco a ira dos fundamentalistas, apesar da
Igreja Católica ter sido sempre fundamentalista disfarçada. Joshua Ben Pandira
e seu grupo eram gays, na essência, e são a pedra fundamental deste reino, que
se constitui na primeira multinacional do mundo e atravessou séculos,
empoderada na organização que traduz. E
que hoje dança um tango com o mundo. Com este mundo no qual há carência no
aprendermos a respeitar uns aos outros; no amarmos fraternalmente, sem
restrições, para viver uma liberdade sadia. Por isso não ofendo jamais quem é homofóbico.
Não posso me nivelar à sua ira. Apenas argumento e isto é bastante difícil.
Este processo de entendimento é longo. Fico apreensiva quando gays,
desesperadamente, botam a boca com palavras de baixo calão contra estes. Com
isto só pioram a imagem da diversidade. Com isso só retardam o progresso da
convivência salutar entre diferentes.
Os seres humanos, hoje em dia
respeitam e se ligam cada vez mais aos cachorros, e menos aos seus semelhantes.
Precisamos nos valorizar como raça. Os gays estão sendo mais maltratados e
menos queridos do que os cães, que têm lugar de destaque nas famílias. Isto sim
é degeneração da raça humana. Que me perdoem os que têm cães, mas não podemos
dar igualdade aos animais. Adotar e nos igualar aos nossos semelhantes pode ser
uma caminho salutar. Mas ainda prefiro ser gay não aceito por grande parte da
sociedade, do que ser cachorro. Pois o cachorro só aguenta os seus donos porque
precisa. E eu, por ser gay na essência e hoje "cidadã butiaense",
como disse o jornal Sobral em uma manchete, quando eu me operei, e acima de
tudo cidadã do mundo, pelo meu conceito universal de vida e obra; eu, por ser
gay que conquistei identidade civil legalizada pela justiça, como do gênero
feminino, e já antes do gênero humano, não preciso me submeter como um cão a
quem me aprove e me aceite, como os cães o precisam. Eles só são aceitos porque
não criticam seus donos. Se pudessem falar, quantas atrocidades poderiam nos
contar sobre os mesmos. Não quero ser aceita a este preço próprio dos irracionais.
Por isso conto e convivo com meus amigos racionais.
Fundamentalistas estão batendo
na tecla da herança do tal reino do céu. Que os considerados devassos não o
herdarão. Em primeiro lugar, quem quer saber desta história bíblica, no mundo
atual? - Somente pastores que têm nela uma fonte de renda infinita e
trilionária e pessoas que gostam de ser exploradas e, quanto a isto é problema
delas. Cada um aplica o seu dinheiro onde se sente feliz. Não sou devassa, sou
transexual e não prejudico a ninguém. Jesus Cristo falou: "no fim dos
tempos, muitos falarão em meu nome". Mas, cuidado com os lobos vestidos de
cordeiros. Eles estão na mídia, no Congresso Nacional, por toda a parte. Eles
estão nas nossas ruas e agridem a nossa inteligência. Apesar disso atingem a massa
ignorante e a conduzem como boiada, que, com propriedade, chamam de rebanho. A
doença do fundamentalismo atinge a sociedade, violando os direitos humanos. A
suposta “doença gay”, pelo contrário, é um direito humano exercido por pessoas
normais que usam seu livre arbítrio para serem felizes. Por ser transexual –
fiz cirurgia de transgenitalização – hoje sou feliz. Mas antes de ser
transexual sou ser humano, desrespeitada acintosamente por essas brigadas
religiosas. A ignorância deste povo é consubstanciada pelo desejo de impingir
suas leis que carecem de fonte fidedigna. Sim, porque não venham me dizer que
bíblia é livro sagrado e fidedigno. É uma bela peça literária, disso não
discordo, mas muito distante dos anseios dos humanos. Se existisse um deus, ele
nunca criaria anseios nos seres humanos para depois proibi-los. Sagrado é o ser
humano em suas manifestações individuais e pluralistas, na diversidade.
Demônios são os que lutam contra a felicidade alheia.
* Artigo publicado
originalmente em www.facebook.com/lucianacarrero