quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ORGULHO HÉTERO

SOBRE O ORGULHO HÉTERO

Luciana Carrero

Há um deputado querendo criar a lei que institui o dia do Orgulho Hétero. Considero que deveria estar se preocupando em realizar ações em favor do Brasil, que está se desconstituindo, como nação, pelo ódio racista, classista, xenófobo, religioso, político-partidário, de orientação sexual, de gênero, incluindo o misoginismo, que é um dos movimentos mais fortes na humanidade, embora se manifeste de forma tão particularizada e surda (ou seria muda?); e muitos outros mais.

Todos precisamos de fantasias para dar sentido à vida. O(a) transsexual é o maior exemplo disso. Sou um(a) dela(e)s e tenho o meu orgulho, mas não preciso estar ostentando. Nem preciso agredir a alguém. 
Não sou fundamentalista. Sou escritora independente, minha missão é com a verdade e com a justiça, mas muito grandemente com a fantasia, que cultivo na minha poesia, entretanto, sei ser racional. 
Se alguém quer ter seu orgulho hétero, que o tenha, mas isto não precisa virar lei, assim penso. Eu, por exemplo, não participo das manifestações do orgulho gay, nem tenho conhecimento de se está, o dia, instituido como lei. Por ser transsexual, nunca serei uma mulher nem um homem, fisicamente. Serei mais um(a) gay operado(a). Porém, acho que mais vale a minha fantasia, amparada pela ciência e pela justiça, do que a ostentação do orgulho de ser quem escolhi. 
A manifestação rumorosa e destemperada, para não dizer coisa pior, é própria dos fundamentalistas que acusam. E agem, muitos deles, afrontando, de modo grosseiro e desleal aos principios de urbanidade e respeito. 
Cada um tem sua vida, mas não concordo com segregações. Se quiser, o deputado, viver ao lado de pessoas normais, que se comporte cumprindo a sua missão. Sua manifestação é anti-social. 
Quem sabe vai primeiro se curar, procurar ajuda especializada? Depois volta para viver ao lado de pessoas normais. Imagino quantos gays enrustidos vão se manifestar, no dia do orgulho hétero, para enganarem-se a si próprios e à sociedade. Porque normal é ser livre. O anormal pode ser ele.