terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Dadaísmo: PICHADORES, MAIS QUE CHOQUE ESTÉTICO...

Luciana Carrero

A angústia dadaísta vai escalando paredes e traçando indisciplinados riscos repugnantes nas arquiteturas, material ou simbolicamente falando. Os pichadores causam choque estético e retratam a eterna violência que vem dos profundos escaninhos das mentes e se materializam nesta espécie de arte do subterrâneo, exposta desaforadamente. Algo de brutal nos mostram, também de assustador, presença marginal que intimida e nos leva a não pensar em nada, porque não queremos adentrar aos umbrais desta loucura diabólica.

O pichador; o motoqueiro que rompe os tímpanos do sossego público com o ronco premeditado de sua máquina, o motorista que traz o som de um trio elétrico no automóvel de passeio; o ser humano que se joga no meio do passeio público, expondo sua má sorte, suas mazelas, seu aspecto tetraplégico; as pessoas que se movem de ternura e andam abraçados com cães sarnentos e fazem questão de dizer isto e de, ao mesmo tempo, culparem os outros por não fazerem o mesmo; até mesmo aqueles que dizem que entre humanos e cachorros preferem os cachorros, são todos dadaístas inconformados que querem, consciente ou inconscientemente escandalizar. Os toniolos da sociedade esbanjam criatividade para incomodar, estressar, atordoar o mundo. Ninguém quer parar, sequer para analisá-los. Dissecá-los é dar-lhes asas, importância, razão. Não há lei que ouse punir estes demônios que, tal matilhas devoradoras, vão semeando efeitos destrutivos no meio-ambiente. Isto a ponto de formarem quadrilhas, legiões de encapuçados nas madrugadas, subindo como aranhas e rasurando matéria bruta com raízes que se espraiam para nossas almas boquiabertas e para a sociedade impotente diante da sua presença nefasta. Ou aqueles que nos agridem na condição humana. A todos estes tipos, em menor ou maior grau, podemos colocar no mesmo patamar: os assassinos em série, jovens que matam os pais, pais que dilaceram filhos, estupradores, pedófilos, pessoas anti-sociais, como as que criam cães ferozes. A população vai entendendo toda esta violência como uma coisa só, e é esta mesmo a verdade. No caso específico dos pichadores, nem habitando no trigésimo andar de um edifício totalmente impossível de escalar, estaremos livres. E no caso dos outros "ores" e "ófilos", basta estarmos vivos para sermos potenciais vítimas. Eles chegam a todo lugar sanguessugando paredes ou, com suas garras imensas, se servindo de inocentes úteis às suas práticas cruéis. Semeiam o medo. Mais que um choque estético, são um descomprometimento ético e a revolução própria da loucura incontrolada, a cultura do diabólico.

RITMO DA CHUVA



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