#31 de Março, 50 Anos do Golpe que supostamente levou Helleny
#Luciana Carrero
Não foi
por acaso que escolhi Helleny Telles Guariba para apresentar como suposta
vítima da ditadura, em destaque, no meu perfil do Facebook. Foi por esta
valorosa mulher ter escolhido o teatro como uma de suas armas contra a ditadura
militar de 1964. Assim, ela combateu no mundo das ideias, com a sua arte , mas
também foi guerrilheira armada. Se ficasse só no teatro, talvez não fizesse
muita diferença. Poderia ter sido eliminada, da mesma forma, já que dizem que
era costume torturar artistas. Poderia, no entanto, estar viva, como
permaneceram o Chico Buarque e tantos outros. Enfim, pelo sim, pelo não,
"foi desaparecida", e os depoimentos que existem contam da sua luta e
deste desaparecimento, sob o suposto comando do governo militar, que atrasou 20
anos da democracia brasileira. Choro por todos que ideologicamente, na cultura ou
com grupos armados deram suas vidas pelo Brasil. Foram, segundo a imprensa e
amigos, presos, torturados e não tiveram, dentro do seu próprio país, o direito
a um julgamento, visto que o período foi, também dizem, da maior violação aos
direitos humanos que se viu neste país. Ao serem presos foram sumariamente
eliminados, covardemente. Não sei qual das duas armas é a mais letal, a arte ou
um fuzil. Mas sei que não são as armas militares as melhores que podemos usar
contra ditaduras, porque elas estarão sempre armadas até os dentes, para
eliminar os opositores. A nossa arma deve ser, sempre e cada vez mais, a
formação cultural, a responsabilidade e a construção de uma nação justa,
através de uma democracia responsável, do poder do voto, melhor antídoto para
eliminar ações nefastas de poderes armados. Quanto mais a sociedade armar
greves, badernas, revoltas e destruição, bem como ataques ao governo, dentro ou
fora da Internet, mais espaço abrirá para o oportunismo desta espécie de
fascismo que muitos desavisados e desinformados pedem. Helleny, minha irmã de
arte! Igual a você, luto na trincheira da cultura, e foi o que fiz, à época do
golpe, com a minha poesia de protesto, com menor notoriedade que você, pois num
âmbito mais regional. E, se for obrigada a combater novamente - até já estou
sendo - uso a minha pena, de modo preventivo e intensificarei, na medida do
possível. Diferente de você, não uso armas letais. Poderei morrer, da mesma
forma que você morreu, se os acontecimentos me levarem ao embate, mas poderei
ficar viva, por muito tempo, como ficou o Chico e continuar fazendo a minha
parte por um país melhor.