quarta-feira, 1 de abril de 2015

#Catando Poesia #Revista Caosótica

CATANDO POESIA NA REVISTA CAOSÓTICA - DEZEMBRO/2014 - Ando sempre à procura de poesia, minha leitura preferida. Na revista em análise encontro-a no texto "Para Manoel de Barros”, do Zé Augustho Marques, Pag. 8: “Rosa no azul/de agora/dos amores/Rosa coroada/para Manoel/ escancarada/de primavera/........................... Vulcão de cores/vida viva/na palavra/difícil de dizer/que uma pétala/se foi, sem querer...” . Depois mais um lampejo (de poesia), em Affaire de Amor, de José Nedel, na página 20: “Surpresas já não causam os rumores/De que jamais, numa amorosa faina,/A estrada irregular se toda aplaina./Aliás, “amar não é para amadores.”  Mas preciso ir adiante e encontro-a (poesia) com José Eduardo Degrazia, na página 34: “de naves e barcos/em arcos sobre o abismo/onde a barca/do sentido/mergulha suicida...” E já tudo descamba numa prosa empilhada que vai quase ao fim numa catarse engajada, com 18 linhas desnecessárias. Ao final dá-se conta, ou por um milagre, volta, Degrazia, à poesia: “Ó Manhattan de pétalas de concreto,/Ó Manhattan de pássaros de metal e vidro,/Ó Manhattan de sonhos alcançados e perdidos,/Ó Manhattan de pomos dourados e de deicídios,/Ó Manhattan de sonho indecifrável que me devora.” Aí terminaria o poema, mas o autor resolve dar um final capenga: “Oh Manhattan esfíngica” Lamento! O poema poderia ser só as duas sequências acima e sem este final. Voo até a página 46 e encontro uma montagem concreta insólita. Fujo! Na página 47, respiro aliviada. Heureca, achei um poema completo (com poesia), de Joaquim Moncks, “O Mastigar dos Afetos”, já com título metafórico e mais metáforas até o final. “Nasce o poema entre o beijo/e a noite mal dormida./Nasce o poema no cansaço/de tantas saudades./Nasce o poema gargarejando sangue./Poema com sono e com medo./Sono dos que sonham o encontro./Temores dos que sabem das perdas./Assim o poema vem ao mundo:/ Doce mastigar dos afetos./E solfeja em mim a notícia/de que estás viva, mesmo/que te proteja o silêncio. Em grande parte do trajeto nas páginas da revista, persigo a poesia, bem pouco encontrada, voo por cima de prosas empilhadas e chego à página 50 em “Os Galos de Lata”, este também completo (poema com poesia), de Dilan Camargo, e vejo um novo oásis para minha procura: “Sobre os telhados/os galos, com seu perfil de lata/sinalizam os caminhos do vento./Dentro de casa o tempo/frio ou quente/desfia o seu concerto./Há uma melodia/para os doentes/outra para os contentes./Entre os demais/ninguém dança, só pressentem/a lenta sinfonia do perecimento./Os galos giram/e se precipitam na noite/os mortos e os sonolentos./Só os insones descontentes/lutam a luta do continuamento./Esses galos de lata/não ciscam, não cantam/não cuidam da sobrevivência./Só existem/porque interessa aos homens/pra onde sopra o vento. Na página 51, uma prosa lírica agradável, denominada como poema: “Para que pés, se tenho asas”, de Mariza Baur. Não vou transcrever porque estou focada em poesia. Mário Feijó, que viera fraco, na trajetória de páginas anteriores da mesma edição, com poemas de ameno intelecto, surpreende com o instigante “O bater da porta”, poema que parece contemplar a diversidade, na página 62: “Era quase noite/Quando bateste à minha porta/ Trazias no corpo queimado de sol/Ainda o salitre da maresia/Apenas flanavas feito gaivota/E no teu corpo quente havia/Um sorriso branco de nuvens/Como se fosse tarde de verão/Não ouvi o som da tua voz/Apenas te entregaste ao amor/Não te reconheci homem ou mulher/Eras apenas um anjo querendo ser amado/E pouco tempo depois/Saciados do amor/Ouço o bater da porta/E assustado acordo para a vida.” Maravilha! O personagem saiu do armário. Volto outro dia com análise das prosas da mesma edição (36) da revista. (Luciana Carrero, produtora cultural).