domingo, 4 de janeiro de 2015

#Dom Quixote #Luciana Carrero

DOM QUIXOTE

Luciana Carrero

Ouviu-se a cavalgadura
e uns gritos desusados
bater de ferros e coisa
de guerreiro alucinado
O cavalheiro gritava
Ao ataque, Pancho Sança
A matar a alma do monstro
Que se esconde na carcaça!

Mas isto não é carcaça
é casa, fala o escudeiro
- Nunca discuta comigo!
diz Dom Quixote, altaneiro
- Não discuto, cavalheiro,
mor defensor da justiça
estou só argumentando
pro senhor não gastar armas
terçando-as co’a velha casa

- Então não mais argumente
comigo, escudeiro tosco
seu gordo e velho bisonho
Se tem medo, vá-se embora
que eu aqui luto e me imponho!
Quixote quebrou janela
e encontrou só uma velha
alma, fazendo tricô,
que nem mexeu a cabeça

E dom Quixote falou:
Às armas, alma penada
que habita nesta carcaça!
derrubei moinhos de vento;
derrubá-la não tem graça!

- Aqueles eram gigantes,
velho guerreiro altaneiro,
paladino da justiça!
Se moinhos derrubasse,
Cavalheiro nobre em lata,
não condiz co'afamado
contando errada a bravata

- Desculpe, ando esquecido
mas não esqueci meu nome
Sou Dom Sancho de La Pança
Meu escudeiro é Quixote
- Muito prazer, diz a velha;
o meu nome é Dulcinéia
Agora siga seu rumo
que é hora da mi’a novela!
Amanhã te mando a conta
do conserto da janela!

Dom Quixote, o Cavalheiro, sai de costas, fazendo mil reverências.

e resmunga: Dulcinéia! Já ouvi este nome em algum lugar! Termina o ato. Fecha o pano. A platéia aplaude em pé e chora...