#A Lotérica Felicidade da Mulher
A Lotérica Felicidade da Mulher
Luciana Carrero
A escritora é pouco conhecida no Brasil.
Quando anunciada a sua conquista do Prêmio Nobel de Literatura, ao final de
2013, não havia nas livrarias de Porto Alegre um exemplar que fosse de nenhuma
de suas obras. E demoraram mais de dois meses para começarem a aparecer. No
mesmo dia em que foi anunciado o prêmio, fui encontrar um exemplar somente em
um sebo aqui da Capital. Li de um fôlego só, a raridade.
Ao concluir que os conceitos não se
universalizam, quero dizer que retrata, apesar de ser supostamente uma obra de
ficção, uma localização do tema e dos conceitos em um caráter de abordagem de
conotação quase histórica, que não se coaduna com a realidade, por exemplo, da
mulher brasileira, ou ainda de outras regiões do mundo. Mas tem o valor de instigar
a pensar. As personagens todas fazendo parte de um mesmo novelo, na narrativa
deu-me a impressão de que eram uma mesma mulher em diferentes situações, embora
numa mesma conjuntura social e humana. Cheguei a imaginar, dada à familiaridade
de pensamento delas, e até tecnicamente, dos seus diálogos, tratar-se de um
livro que buscou o enredo no próprio caráter auto-biográfico de Alice.
Não considerei, no entanto, tão importante
para meu entendimento e, possivelmente, para os leitores brasileiros, a
afirmativa sobre as mentiras que o resenhista abordou e que citei aqui, no
primeiro parágrafo. Há aspectos mais profundos sobre fatalidades, perdas de
tempo, passividade e outros. Tudo no livro poderia importar mais para “as
leitoras brasileiras”, do que para o homem brasileiro, já que me parece
bastante difícil que um homem daqui vá interessar-se pela narrativa, pelo
menos, já que pelas abordagens psicológicas menos ainda. O quase relato é
dirigido, ao meu entender, para um público feminino. Não se apresenta de forma
a acrescentar algo de prático para o homem moderno, nem no Canadá e nem em
alguma parte do mundo, mormente no Brasil.
Mas considerei e considero mais importante
dizer que nenhuma mulher no mundo, até os quarenta anos, no máximo, deve deixar
de lê-lo. E por que? Porque depois dos quarenta já será tarde, se houverem
enveredado pelos mesmos caminhos de submissão e predeterminismo do destino em
que incorreram as personagens. O que mais chamou-me a atenção foi “como lidar
com as perdas” de um modo realista e este é um ponto forte, que se projeta
acima do sentimentalismo da mulher brasileira.
Serve o livro como exemplo, não do que fazer,
para a mulher mundial, mas do que não fazer, talvez, em maior ou menor
proporção, para não chegar ao fim da vida com as mãos vazias
Lendo
o livro você vai entender que a felicidade não é uma loteria, mas que é preciso
saber jogar um jogo mais prático e objetivo, talvez um xadrês, para construí-la.