quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Manoel de Barros - Homenagem de Luciana Carrero

MANOEL SAIU PARA EMBORA... 

Luciana Carrero*

As palavras caminhavam sobre ele
Conheciam todas as entrâncias
reentrâncias do seu corpo
Sabiam mais dele do que ele delas
porque nele se pronunciavam
como se pronuncia o suor
do corpo dos operários maldestinados
as coisas ínfimas as universais
as grandezas e desgrandezas dos tudos
Manoel era tisnado do sol das noites
banhado no luar dos dias mal contados
Ele não tinha noventa e setembro
Noventa e sete é que o possuia
nem de janeiros e dezembros contava
Segundos eram claves
minuto eram pautas
semanas eram versos
horas eram sinfonias
inacabadas a cada dia
porque cada dia era um poema acabado
sem precisar final
quando a pauta sumia numa cauda de sol
Ele desconversava tudo no dia seguinte
porque o novo dia reconstruía inspiração maior
Manoel não sabia de nada nem pensava
O pensamento é que o pensava
Ele não dormia porque o sono lhe dormia
Manoel nem poeta era
a poesia é quem era Manoel de Barros
Foi embora porque o embora o arrastou
A inspiração disse, chega Manoel
de dizer tanto por mim. Vai dencansar
nos braços do nada.
Outros poetas te desseguirão
até o início do fim que nem fim tem.


*Produtora Cultural, reg. 3523, LIC/SEDAC/RS

Este poema está em: http://lucianacarrero.blogspot.com.br/2014/11/manoel-de-barros-homenagem-de-luciana_13.html e outros poemas da autora estão em www.lucianacarrero.blogspot.com.br