quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

SIMONE DE BEAUVOIR*

           #Luciana Carrero

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir,
este foi o pomposo nome
que meu pai me deu, em Paris
Fui  escritora, filósofa existencialista
e feminista francesa.
Escrevi romances, monografias filosóficas,
políticas, sociais e ensaios;
biografias e uma autobiografia.
Na família fui
a mais velha das únicas duas filhas
de Georges Bertrand de Beauvoir,
advogado e ator amador,
e de Françoise Brasseur,
uma jovem mulher, de Verdun.

Era uma criança atraente, mimada,
teimava em obter o que queria;
centro das atenções da família.
A mãe não foi uma grande costureira,
e as roupas eram mal ajustadas.
Ao crescer, eu não tinha amigos
além da irmã Poupette,
que era dois anos e meio mais nova
e de quem fui próxima.
O avô materno, do Banco Meuse,
faliu, “jogando toda a família
em desonra e pobreza”.
(Este não é meu pensamento)
Meu pai não recebeu o dote
por casar-se com Françoise,
e a família teve que se mudar
para um apartamento pequeno.

Georges de Beauvoir
teve de voltar ao trabalho,
embora este não lhe agradasse.
A família lutou para manter lugar
na alta burguesia.
Georges dizia-nos, frequentemente:
"Vocês, meninas, nunca vão casar,
porque não terão nenhum dote".
Sempre estive consciente
de que meu pai esperava ter um filho,
ao invés de duas filhas. Ele afirmava:
"Simone pensa como um homem!"
o que me agradava muito,
Desde pouca idade
distingui-me nos estudos.

Georges de Beauvoir passou-me
seu amor pelas artes do teatro
e da literatura.
Ele considerava  que
somente o sucesso acadèmico
poderia tirar-nos da pobreza.
Hélène tornou-se pintora.
Eu, uma adolescente desajeitada,
dedicada completamente aos livros
preferi ignorar os desportos
porque não era nada atlética.
Eu e a  irmã fomos educadas
no Institut Adeline Désir
ou Cour Désir, uma escola católica
para meninas, algo desprezado
pelos intelectuais da época.
Escolas católicas para meninas eram vistas
como lugares onde as jovens aprendiam
uma das alternativas dadas às mulheres:
casamento ou convento.

Minha mãe era uma intrusa
espiando cada movimento meu;
frequentou as aulas conosco
sentada atrás de nós
costume de certas mães, à época
Lá, conheci minha melhor amiga,
Elisabeth Le Coin (Zazá)
que influenciou de forma definitiva
minha personalidade
Na escola me formei com "distinção”
Cedo decidi que seria escritora.
Jacques Champigneulle tornou-se
meu mentor intelectual e amigo,
A mãe esperava que eu casasse com ele

Geraldine Paro e Estepha Awdykovicz
tornaram-se minhas amigas.
Depois de passar nos exames,
bacharelado em matemática e filosofia,
estudei  matemática no Instituto Católico
literatura e línguas no Instituto Sainte-Marie,
e em seguida, filosofia na Sorbonne;
Fiz  uma apresentação
sobre Leibniz.
Lá,  conheci outros jovens intelectuais,
incluindo Maurice Merleau-Ponty,
René Maheu e Jean-Paul Sartre.
Maheu deu-me o o apelido
que me acompanhou na vida:
Castor, por causa da ética do animal.
Fui a pessoa mais jovem a obter
o Agrégation na filosofia,
Fiquei em segundo lugar.
Sartre, foi o primeiro
Minha amizade com Zaza
foi abruptamente rompida
com sua morte precoce
Narrei esse episódio da vida,
no primeiro livro autobiográfico,
“Memórias de uma moça bem-comportada”,
em que critiquei valores burgueses.

Logo uni-me estreitamente a Sartre
e a seu círculo, criando entre nós
uma relação polêmica e fecunda,
que a todos permitiu compatibilizar
liberdades individuais e vida conjunta.
Dizem difícil caracterizar-nos como casal,
porque vivemos longas relações amorosas
cada um com outras pessoas.
Tive forte relação
com escritor norte-americano
logo após a guerra,
e não vou citar o nome
Mantive relação duradoura
com Claude de Tal
No verão, era comum eu e ele
viajarmos com Sartre e a amante Michelle
ex-esposa do escritor Boris X
Fui professora de filosofia
em escolas de Ruão e Marselha.
Morri de pneumonia em Paris,
aos 78 anos. Encontro-me sepultada
no mesmo túmulo de Jean-Paul Sartre
no Cemitério de Montparnasse em Paris.

*Alegoria