segunda-feira, 12 de maio de 2014

#Elogio da Loucura do Poema - IV - Repercussão




#Luciana Carrero
A poesia é de uma extensão cósmica cuja amplitude se perde e se encontra no infinito. A rigor, não pode ser aprisionada em gaiolas, nem por conceitos e teorias. A liberdade criadora não pode sofrer a censura do método. Ou vira ciência. Os poetas são livres para percorrer os mistérios da inspiração e nisto consiste a magia e até mesmo o sortilégio do bruxo poeta na sua viagem entre o real e o fantástico. Quem me diz isso é o Gabo, no contexto e/ou nas entrelinhas da sua literatura ficcional, cujo princípio é o mesmo para a poesia. Este é o fascínio que descobri, quando tornei-me deus no meu universo de criação e na escolha do exacerbado freestyle que hauri do meu caos.  O resto são conjeturas das quais devo preservar-me, apesar de reconhecê-las valiosas para o estudo da arte. Isto porque quero conservar a minha primitiva rudeza e o meu vínculo com o não escolado. Aprecio as manifestações estudiosas do prezado poetinha, com uma admiração extensa e indisível, e delas não posso prescindir, mesmo que seja para não segui-las ou para instigarem-me a pensar e firmar meus conceitos. O valor do seu trabalho é vital para a construção de arcabouços ou arquitetura para a clientela mais sugestionável que chega desorientada nesta sociedade onde todo o mundo é tudo e não é nada ao mesmo tempo. Você tem sido um confrade impagável, do qual absorvo críticas, mesmo que não dirigidas a mim, quando as julgo justas e me servem os chapéus.  Mas fico por aí. Caso contrário eu não seria uma livre filosofista, como você, nos caminhos da nossa arte.  Nos perderíamos muito se fôssemos soldadinhos de chumbo dos tempos da nossa infância, que hoje já são de plástico ou até mesmo virtuais. Ando no meio desta virtualidade por necessidade do meu ofício, em ânsias de comunicação e tropeço em intrusos que frequentam o mesmo meio. Por isso a minha animosidade e até agressividade, que você já percebeu e comentou, imaginando-as contra a confraria dos legítimos, mas na verdade é contra os pseudo-artistas que transitam nesta seara. Para os "nossos" toda a benevolência e fraternidade. Para os outros, o que fazer, já que parece impossível separar o joio do trigo, e ver tantas nulidades prosperarem. Daí o meu desabafo no "Elogio da loucura do poema" e mais os dois desdobramentos que estão publicados no Recanto das Letras. Senti, com sua apreciação gentil, caridosa e discreta,  que devo fazer como a anta e tomar um banho no barro do meu caos para limpar o cheiro na minha rota, quando não quiser ser seguida por algum propósito inominado. Obrigada #Joaquim Moncks. Você é realmente uma estrela que brilha no meu céu cultural. Tem me ajudado mais do que possa imaginar, dentro da sua linha de respeitosa confraternidade.

#Pinacoteca


Era Dia das Mães

#Luciana Carrero*

Olhos fixos no céu branco do meu quarto
Sem estrelas e lua, nuvens, vento e sol...
O silêncio e a ansiedade de uma busca
Traça rotas de torpor nas minhas vistas
Que se fundem ao concreto do meu teto

Por onde andarão os espíritos que se foram
Que se apresentam somente nos meus sonhos?
Por onde andará meu avô do corpo andarilho?
Será andarilha, também, sua alma que partiu?
Há povoações ou picadas para perambular?

E aquele homem de amor gentil, velho pai?
A mãe que morreu sufocada num suspiro breve?
E uns tios e tias, amigos, primos e conhecidos
Que embarcaram para o além em vários tempos?
Mas meu cismar se dilacera contra o reboco branco

E rompe-se o teto. Tétricos fantasmas ganem:
Eu sou teu avô, teu velho pai, teu tio e tia
E nós somos os amigos, primos e conhecidos
Trazemos também um bando de almas sofridas
Já que chamou-nos para entristecer teu dia!

As paredes derreteram como lesmas salpicadas
E uma chuva de lágrimas cobriu tudo que ruia
O mundo sacudiu e uma lama espumou no espaço
Nade... nade nas nossas lágrimas, alguém vociferou
Já que te dá tanto prazer investigar os mortos!

E me debati, e afoguei-me em tamanho sofrimento
Mas já meus gritos faziam eco no corredor branco
Tudo era branco naquele ambiente de pequenas celas
E já eu cantava uma canção religiosa triste de filho:
Com minha mãe estarei, na santa glória um dia!

E minha mãe chorava, acocorada num canto
Gemendo baixinho o seu lamento em fundos ais
Eu que contara minha mãe estando no outro mundo
Falei. Não chora, minha mãe, eu estou bem, aqui!
E dormi fixando o olhar no branco céu do quarto!


*Produtora cultural, reg. 3523, na LIC/SEDAC/RS