quarta-feira, 2 de abril de 2014

#A Doença do Padre Marcelo

#A Arte é um dom divino que cura

#Luciana Carrero*


Numa entrevista, após um regime alimentar inadequado, padre Marcelo revelou ter perdido 40 quilos. Parece que, por isso, sofrera depressão. Mas a questão é mais funda, penso. Imagino que, de tanto doar-se, sucumbiu exausto, e que o tal regime já era o início da depressão. Então aquele padre que orava com as multidões e voava nas asas da mídia, teve de pedir um refresco: "Orem por mim". Na matéria divulgada, afirmou que antes considerava a depressão uma frescura. Mas pôde entender, quando a depressão veio para ele, que é uma doença, e disse: "É o que você tem o dia inteiro, uma sensação não boa". E concluiu: O que me salvou foi escrever. "O que me salvou foi cantar. O que me salvou foi a oração”. Sábio, ou pelo menos oportuno este reencontro do artista-evangelista, ídolo de massas com o Divino. Saiu assim da obsessão para a realidade humana; de que é humano; de que não poderia esquecer-se de si próprio, tomando para si o exagerado sacrifício de carregar a massa de gente que lhe sugou todas as forças, sem dó nem piedade. Este parece ser o rumo do mundo; aproveitar-se dos seus benfeitores, até reduzi-los a trapos. A Arte é um dom divino que cura, mas precisa ser sorvida e não esquecida a um canto enquanto vai-se salvar uma turba que talvez nem esteja preparada para ser salva, e que, ao afogar-se, se pendura em sua “batina” de boa vontade, e leva o apóstolo salva-vidas para o fundo da miséria humana. Não sou católica, nem cristã, no sentido que preconiza a igreja, sendo o meu Cristo as minhas boas atitudes e o meu amor. Mas admiro a doutrina do Mestre Jesus, a sigo no que é possível. Respeito os bons pastores, como Marcelo Rossi e o papa argentino, mais dignos da condição humana do que é a constituição duvidosa da multinacional romana, duo-milenar a que pertencem. E por que? Por que são humanos acima da egrégora, que anda mais na política episcopal do que na missão de religar o homem a Deus, sendo que esta palavra “religar” é o que significa religião. Certamente o papa e o padre Marcelo sozinhos ou secundados por outros tão poucos, não conseguirão abraçar o mundo com as pernas. E poderão até viver em eterna depressão neste mundo iconoclasta, ateu e atoa, mas principalmente sem noção, que Cristo já definiu na afirmativa: “Pai, perdoa! eles não sabem o que fazem". A estes discípulos do Cristo posso dizer: nunca abandonem suas "ovelhas", mas respaldem-se nas Artes, a leitura, a música, o canto, a poesia, que são alimentos da alma. Como escritora, estou atenta a tudo e faço a minha parte, cultivando a arte, mas nunca serei estivadora a coquear sacos de misérias humanas, comprometendo a minha própria saúde.

*Filósofa independente, escritora e produtora cultural – Reg. 3523 LIC/SEDAC/RS

#A COR DOS OLHOS

#Luciana Carrero

Teus olhos-mares enxergavam mares
De ondas revoltas nos meus mares-olhos
E eu tinha medo destes teus cismares
Do estranho olhar neste teu mar de escolhos

Era o meu olhar castanho e verdoso
Eram negros teus olhos penetrantes
Era morteiro o meu olhar piedoso
Eram arco-íris nossos por instantes

Na verdade eram ambos overdoses
De lunáticos seres que ouvem vozes
Das loucuras de todos os amores

Que abduzidos por navios algozes
Se misturam em formas tão velozes
Centrifugados já nem veem cores